sexta-feira, 15 de outubro de 2021

DEMOCRACIA: A ORIGEM DA INSTABILIDADE POLÍTICA NO OCIDENTE


 

         Há exatos 139 anos, Henrik Ibsen, um tanto quanto distante dos grandes centros democráticos mundiais, demonstrou através da dramaturgia uma verdade que tantos filósofos já tentaram expor através de raciocínios mais sofisticados e menos dramáticos: “O maior inimigo da verdade, e também da liberdade entre nós, é essa coisa terrível que recebe o nome de maioria” (Um Inimigo do Povo). E as razões disso, já deveriam estar suficientemente claras a todos. O homem excelente, sábio, criterioso e capaz, é sempre uma minoria. Enquanto os estultos, sempre foram a maioria. Portanto, colocar o poder nas mãos da maioria é colocar nas mãos dos idiotas!

Até mesmo o documento mais popular e sagrado no Ocidente não deixou de atestar esta verdade: "Stultorum numerus infinitus est" (O número dos estultos é infinito - Eclo 1, 15). Uma afirmação que Ibsen vai refazer a seu modo: “O que é a maioria? Quem é a maioria? Se pensarmos nesta cidade, no país ou no mundo inteiro, veremos com clareza que os imbecis formam nele uma maioria esmagadora... E mesmo que o diabo queira, o direito não pertence à imbecilidade, pertence à inteligência”. No Brasil, esta relação intima de Democracia e Inépcia era consagrado nas palavras de Nelson Rodrigues: “Outrora, os melhores pensavam pelos idiotas, hoje, os idiotas pensam pelos melhores. Criou-se uma situação realmente trágica: ou o sujeito se submete ao idiota ou o idiota o extermina”. Esta verdade o levará a controversa afirmação de que “toda unanimidade é burra”. A sabedoria, a inteligência, o critério, a perspicácia, o talento nunca foram bens democratizados! Sempre foram bens restritos a uma parcela muito pequena da humanidade. O homem moderno possui grande dificuldade em entender esta verdade, especialmente aquele movido pelo espírito revolucionário que nas raias da sombria Revolução Francesa passou a apregoar a urgência de uma igualdade entre os homens que só existiu no campo teórico. Nesta sanha revolucionário chegou-se à tragédia moderna da ineptocracia. Onde os melhores são relegados ao ostracismo enquanto os piores são exaltados e elevados aos grandes postos de poder.

Sendo a democracia, o governo da pior parte do povo, como se poderá esperar que em uma democracia produza grandes e sábios estadistas? É neste sentido que Mencken diz que “um político criterioso, numa democracia, é tão inconcebível quanto um assaltante honesto”.  Mas Abyssus abyssum invocat[1] a democracia tende a se (ou nos) encaminhar para abismos bem mais sombrios e profundos.

        Diante de tudo que fora exposto, salta-se imediato a interrogação: para onde nos levará a Democracia Moderna? Para o mesmo lugar que ela, em qualquer uma de suas formas, sempre nos levou: à guerra. Mas não uma guerra nos moldes clássicos, com armas e bombas, mas uma guerra branca; uma guerra plebiscitária, onde a mais insignificante afirmação será submetida ao juízo da massa.  

“O que é verdadeiro, justo e belo não é determinado pelo voto popular. As massas por toda parte são ignorantes, míopes, motivadas pela inveja, e fáceis de enganar. Os políticos democráticos devem apelar a estas massas a fim de ser eleitos. Aquele que for o melhor demagogo vencerá. Quase por necessidade, portanto, a democracia, guiará para a perversão da verdade, justiça e beleza” (Hans-Hermann Hoppe)  

A democracia, bem observou Kühnlet-Leddihn, é o governo da pior parte do povo. E nesta lógica, como esperar que o inepto eleito pela maioria governe com sabedoria? Na nescis, mi fili, quantilla prudentia regitur orbis?[2] A massa ama os jecas, e os coloca no poder, e deles espera grande habilidade na condução das coisas complexas do Estado. Revoltando-se quando isso não ocorre. Culpando a tudo, exceto o sistema que os permite chegar ao poder. Eis a grande estupidez da democracia.


[1] Um abismo chama outro abismo” (Salmo 41, 8)

[2] “Não sabes, meu filho, com que pouca sabedoria é o mundo governado?” Expresssão do conde Axel Oxenstjerna (1583-1654), extraída de uma carta do conde a seu filho.


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