Max Weber consagrou no vocabulário político os conceitos de "Ética de Convicção" e "Ética de Responsabilidade". A primeira diz respeito a conduta movida por princípios, independente das circunstâncias e das consequências. A segunda, já diz respeito as ocasiões em que nos vemos obrigados a prescindir de nossos princípios por causa das circunstâncias e das consequências que afetam diretamente o bem comum.
Aquilo que se julga correto do ponto de vista ético, por
vezes e de forma excepcional, pode ter consequências eticamente erradas. A
mentira — por exemplo — um vício, torna-se quase uma virtude, quando através
dela, um alemão ético esconde a verdade a um nazista sobre judeus que abriga em
seu porão. Imagine que, na recusa em eximir-se do dever da verdade, um sujeito
permita a morte injusta de inocentes? Eis o caso em que, o sujeito se
compromete com a consequência da convicção, e não com a responsabilidade do ato
decorrente dela, e vice-versa. No caso citado, o sujeito, ao mentir, está
considerando a ética como um meio, e não como um fim.
O mesmo ocorre quando, o sujeito que em nome da justiça
social deflagra uma ação incendiaria contra uma ordem opressora, sem calcular a
destruição e morte inocente decorrente de sua ação. O único ponto a sua vista é
a justiça social, as consequências destrutivas são ignoradas ou minimizadas.
Quando o agir ético não produz um bem, ela deve ser mitigada
ou mesmo, renunciada. Max Weber, no entanto, não quer dizer que os princípios morais
sejam inválidos, mas que do bem nem sempre surge apenas o bem.
Não compactuar com o mal, por vezes, traz consigo a grave responsabilidade de havê-lo permitido em um grau mais elevado através de formas colaterais.
Em casos de eleições, onde a liberdade do povo está em jogo,
novamente, esta ética se impõe.
Pode se alegar que dentre as escolhas disponíveis, nenhuma seja reta eticamente. Logo, na ausência de bem, e na iminência de um mal maior, não exista outra saída a não ser escolher o mal que seja menos destrutivo.
O momento atual é aquele em que a ética de responsabilidade nos impõe uma escolha em vista do bem comum; uma escolha que pode nos levar a prescindir muitas de nossas convicções.
Eis o caso do pretenso neutro. Ele se vê confrontado com a possível eleição do político mais corrupto da história deste país, com claras tendências ditatoriais, vindo na esteira de grave cerceamento de liberdades e censura, e, ainda, com incontáveis parceiros para auxiliá-lo nesta tarefa, mas, sua convicção anti-bolsonarista o leva a neutralidade, para não compactuar com nenhum mal.
Não se põe em risco o bem comum e o destino de uma nação em
nome de uma pontual hesitação moral. Hesitar diante deste momento, pode ter
consequências irreversíveis e fatais.
É essa circunstância que o sociólogo alemão descreve, ao sentenciar:
A nenhuma ética é dado ignorar o seguinte ponto: para alcançar fins “bons”, vemo-nos, com frequência, compelidos a recorrer, de uma parte, a meios desonestos ou, pelo menos, perigosos, e compelidos, de outra parte, a contar com a possibilidade e mesmo a eventualidade de consequências desagradáveis, E nenhuma ética pode dizer-nos a que momento e em que medida um fim moralmente bom justifica os meios e as consequências moralmente perigosos.
(A política como vocação, Max Weber)
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