O
que é o cômico? Muitos filósofos se impuseram essa interrogação e forneceram
incontáveis respostas a ela. Para Aristóteles, a comédia seria apenas “uma
imitação de caracteres inferiores”, O que inspirou em Stendhal sua visão do
cômico como a mera “convulsão física produzida pela visão imprevista de nossa
superioridade sobre outra pessoa qualquer”. De fato, nesta definição reside
parte do sentimento de superioridade estampado no rosto de quem ri de um
palhaço, por exemplo. A presença do palhaço não inspira temor, e isso torna o
riso mais fácil. O palhaço é o último sujeito, diante do qual, alguém se
sentiria inferiorizado. Para Schopenhauer, o cômico nasce de “um desacordo
lógico entre uma ideia e seu objeto”, enquanto para Freud, o cômico seria a
“percepção súbita da significação sexual sobre a forma simbólica”. Kant, por
sua vez via o riso e o cômico como “a súbita redução de uma expectativa a nada”.
Reação que só seria alcançada quando grande expectativa por um fim quase certo
é frustrado com um desfecho inesperado. Para mim, o cômico reside em tudo que é
incomum; que desconcerta as pessoas por uma troca fortuita do que é
convencional por algo fora do comum. É jocosa a nossos olhos um homem vestido
com folhas de bananeiras, por ser incomum um homem se vestir com folha de
bananeira. Porém, não seria cômico se todos se vestissem com folhas de
bananeiras. Por esta razão, se um homem do século XIII se encontrasse com um do
século XXI, um riria dos modos e vestes do outro. Portanto, aqueles que são
objetos de nossas gargalhadas hoje, poderão não o ser amanhã, enquanto nós, com
nossos costumes e crenças supostamente superiores poderemos ser objeto das gargalhadas
das gerações futuras por rirmos de um gênio.
As
grandes ideias possuem essa peculiaridade, elas são objetos de chacota dos que
a não compreendem. Assim aconteceu com muitos gênios que em seus tempos, tiveram
suas ideias e seus nomes ridicularizados. Embora, passados algum tempo, a época
que os ridicularizou acabou por ser ridicularizada. Quando Edson apresentou a
ideia de termos “luz elétrica” através de lâmpadas, a proposta suscitou muitas
gargalhadas. Como seria possível algo que imitasse a luz do sol, ou iluminasse
nossas noites? As velas não são boas o suficiente?” Uma nota de 1878 de um
Comitê do Parlamento Britânico chegou a menosprezar tanto o povo americano por
conta das ideias de Edson, que dizia em um trecho: “Essa ideia pode até ser boa
o suficiente para nossos amigos que vivem do outro lado do atlântico, mas é indigna
da atenção de homens práticos ou científicos". Curiosamente, Edson aplicou a mesma chacota de que fora alvo a Nicola Tesla, quando este apresentou sua proposta de "correntes alternadas". O mesmo ocorrera a Carlyle
que, as vésperas da sangrenta revolução francesa, alertava seus confrades em um
banquete sobre os perigos das ideias de Rousseau que estavam amplamente
difundidas na sociedade francesa e fazia grande número de discípulos. Os alertas de Carlyle suscitou riso entre os descentes. Algum
tempo depois, alguns dos que estavam naquele banquete estariam com as cabeças
fincadas em postes.
É
próprio dos ignorantes rir do que não conhece. Para o ignorante tudo que
foge ao seu campo de experiência e conhecimento não é digno de atenção. Esta
postura se verifica nos povos mais primitivos como os sentineleses, mas também
em indivíduos que vagam pelo mundo civilizado e são completamente conformados
com o pouco conhecimento que dispõe e, com essa conformidade, se fecham a tudo que os confronta. Todavia,
ridicularizar o gênio sem ouvi-lo pode nos acarretar danos irreparáveis e um
destino cruel. Nossa época, que julgamos tão adiantada, poderá ser objeto no
futuro da mesma chacota que hoje dedicamos à épocas pretéritas. Nada é tão
certo quanto isso. Se outros tempos tiveram esta sorte, por que o nosso seria
dispensado?
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