Thomas Le Clear, Young America |
É próprio dos jovens imitar os
velhos, dizia Ortega y Gasset, e isso fora comum em todos os tempos, com exceção dos nossos, onde o velho quer
ser jovem e o jovem quer ser forever Young
(jovem pra sempre). A maturidade era uma das máximas ambições de todo jovem
no passado, e a juventude algo a se abandonar o mais rápido possível. Nada era
tão ofensivo a alguém do que o menosprezo por razão de idade. S. Paulo faz referência a esta cultura quando em carta a um jovem presbítero, recomenda a
todos que não o menosprezem pela pouca idade. “Na minha infância, dizia Nelson
Rodrigues, o jovem tinha vergonha de o ser”. Nos velhos parlamentos europeus, a
tradição das perucas empoadas era uma outra forma de passar ao público a imagem
de sabedoria e seriedade que o jovem não gozava; alguns chegavam a deitar talco
nos cabelos para imitar fios grisalhos. Todos queriam antecipar a ancianidade,
como modo de ser levado a sério. Ser jovem fora causa de vergonha em todos os
séculos... Menos no nosso.
Jovem do século XVII com sua peruca empoada |
A
modernidade inaugurou algo completamente novo: o velho sente vergonha de ser
velho, e passa a imitar os atributos do jovem: portar-se, vestir-se e falar
como jovem. Todos querem ser jovens! Os jovens começam a dirigir o mundo; a dar
conselhos nos parlamentos, e o pior, a serem ouvidos e obedecidos pelos
adultos. Assim os jovens começaram a tomar o lugar que a própria natureza legou
aos anciãos. Vivemos a época em que o povo se encanta mais com um ancião jogando
bola de gude com as crianças, do que com um jovem tentando ser adulto.
Sabedoria
e experiência são valores complementares, não podendo existir uma sem a outra.
Não espere de um indivíduo com pouca vivencia discutir com a mesma sabedoria de
quem já viveu e enfrentou certos desafios incomuns a este. Apesar dos inegáveis
e admiráveis atributos da juventude, um fato histórico nos resta: as sociedades
mais poderosas que já tivemos noticia, viviam sob o comando de anciãos e as
sociedades que confiaram seu destino na mão de jovens declinaram.
Todavia,
se há uma grande ascensão dos jovens a altos postos de comando, tal se deve por
uma certa inercia e insensatez dos homens maduros. É difícil em nossa geração
encontrar homens da terceira geração dotados da característica sabedoria dos
anciãos. Em geral, os idosos estão tão idiotizados quanto os jovens, e numa
reviravolta como esta, é natural que outras faixas etárias assumam o posto que por
natureza cabia a honorável classe dos anciãos.
Faço
este controverso exame de aferimento de uma sociedade: para se saber como vai
uma sociedade, basta interrogar-se sobre quem está comandando e quem está obedecendo.
Se as mulheres comandam, significa que os homens são fracos; se os jovens estão
no poder, significa que os anciãos não são sábios.
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