domingo, 13 de outubro de 2019

Um sinal de decadência: a deificação do jovem



Thomas Le Clear, Young America




            É próprio dos jovens imitar os velhos, dizia Ortega y Gasset, e isso fora comum em todos os tempos, com exceção dos nossos, onde o velho quer ser jovem e o jovem quer ser forever Young (jovem pra sempre). A maturidade era uma das máximas ambições de todo jovem no passado, e a juventude algo a se abandonar o mais rápido possível. Nada era tão ofensivo a alguém do que o menosprezo por razão de idade. S. Paulo faz referência a esta cultura quando em carta a um jovem presbítero, recomenda a todos que não o menosprezem pela pouca idade. “Na minha infância, dizia Nelson Rodrigues, o jovem tinha vergonha de o ser”. Nos velhos parlamentos europeus, a tradição das perucas empoadas era uma outra forma de passar ao público a imagem de sabedoria e seriedade que o jovem não gozava; alguns chegavam a deitar talco nos cabelos para imitar fios grisalhos. Todos queriam antecipar a ancianidade, como modo de ser levado a sério. Ser jovem fora causa de vergonha em todos os séculos... Menos no nosso.


Jovem do século XVII com sua peruca empoada


A modernidade inaugurou algo completamente novo: o velho sente vergonha de ser velho, e passa a imitar os atributos do jovem: portar-se, vestir-se e falar como jovem. Todos querem ser jovens! Os jovens começam a dirigir o mundo; a dar conselhos nos parlamentos, e o pior, a serem ouvidos e obedecidos pelos adultos. Assim os jovens começaram a tomar o lugar que a própria natureza legou aos anciãos. Vivemos a época em que o povo se encanta mais com um ancião jogando bola de gude com as crianças, do que com um jovem tentando ser adulto.
Sabedoria e experiência são valores complementares, não podendo existir uma sem a outra. Não espere de um indivíduo com pouca vivencia discutir com a mesma sabedoria de quem já viveu e enfrentou certos desafios incomuns a este. Apesar dos inegáveis e admiráveis atributos da juventude, um fato histórico nos resta: as sociedades mais poderosas que já tivemos noticia, viviam sob o comando de anciãos e as sociedades que confiaram seu destino na mão de jovens declinaram.
Todavia, se há uma grande ascensão dos jovens a altos postos de comando, tal se deve por uma certa inercia e insensatez dos homens maduros. É difícil em nossa geração encontrar homens da terceira geração dotados da característica sabedoria dos anciãos. Em geral, os idosos estão tão idiotizados quanto os jovens, e numa reviravolta como esta, é natural que outras faixas etárias assumam o posto que por natureza cabia a honorável classe dos anciãos.
Faço este controverso exame de aferimento de uma sociedade: para se saber como vai uma sociedade, basta interrogar-se sobre quem está comandando e quem está obedecendo. Se as mulheres comandam, significa que os homens são fracos; se os jovens estão no poder, significa que os anciãos não são sábios.

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