Caipira picando fumo (1893), Almeida Junior, Museu de Artes de São Paulo |
Julga-se, com justa razão, o Brasil
um país privilegiado geograficamente. Porém, esta vantagem geográfica contrasta
clamorosamente com uma grave desvantagem cultural em relação as outras nações.
Curioso notar que certas regiões totalmente desfavorecidas pela geografia,
arrasadas por guerras e toda espécie de calamidades naturais e carência de
recursos produziram, e produzem, um extraordinário capital cultural e humano,
enquanto o Brasil com todos os recursos que dispõe, permanece uma nulidade. Eis
um poderoso exemplo que depõe em favor de uma velha teoria antropológica quase
esquecida: a Teoria do Desafio-Resposta de Arnold Toynbee. Segundo este
historiador inglês, um povo desafiado por um ambiente geográfico adverso produz
respostas criativas para superá-lo. Por outro lado, uma nação que cresce dentro
de ambiente favorável, tende a relaxar e estagnar sua capacidade criativa. Eis
parte de uma boa explicação para o gigante adormecido que é o Brasil.
Naturalmente, essa tese fora taxada como simplista, mas, embora simplista, ela
possui certa fundamentação. Um paraíso tropical, pouco afligido pelo clima e
por guerras, cujo povo se encerrou na mediocridade, como é o Brasil, deverá ter
infinitos fatores que determinam seu fracasso. A este respeito, nosso filosofo
maior expôs em termos igualmente simples uma verdade: "As grandes
realizações humanas, provieram das grandes dificuldade; e as mais altas
civilizações foram realizadas onde havia que vencer maior número de
dificuldades" (Filosofia e História da Cultura)
Mas
este cenário privilegiado em que se formou o brasileiro começou a mudar,
especificamente em nossos tempos. O caos, é evidente, se instaura em nossa
nação como nunca dantes. Devastada economicamente; assolada pela criminalidade;
a mercê de líderes corruptos, o paraíso tropical se converteu em um cenário
escabroso. Por outro lado, já notamos os primeiros lampejos de uma exuberante
epifania de criatividade que promete levar nossa nação a uma condição mais
digna. Se estiver certo, não exulte, pois, o crescimento cultural de uma nação
aumenta junto com suas adversidades e à medida que ela se envolve em
circunstâncias dramáticas.
***
Os grandes estudiosos da formação brasileira,
notaram em seus primórdios uma acentuada predisposição ao descaso e à preguiça.
Herança indígena, dirão alguns como Roberto Campos. O Pe. José de Anchieta, que
viu a fundação desta nação, observou com certa curiosidade a típica
indisposição brasileira estampada na personalidade daqueles em que ele se
comprometera a educar. Em 1586, o missionário jesuíta escrevia sobre o tipo de
estudantes que encontrara em terras brasileiras: “Os estudantes neste país são
poucos e sabem pouco; a própria natureza não ajuda porque é depressiva,
indolente e melancólica; e todo o tempo é gasto em festas, canções e
distrações”.
434
anos se passaram e a famigerada indolência brasileira unida a seu espírito
folgazão permanece inalterável. Gilberto Freyre, também citando o Pe. Jesuíta,
observa o mesmo espírito impregnado na alma brasileira.
"O
ambiente em que começou a vida brasileira –– escreveu o antropólogo
pernambucano ––, foi de quase intoxicação sexual. O europeu saltava em terra
escorregando em índia nua; os próprios padres da Companhia de Jesus precisavam
descer com cuidado, senão atolavam o pé em carne (...) As mulheres eram as
primeiras a se entregarem aos brancos, as mais ardentes indo esfregar-se nas
pernas desses que supunham deuses. Davam-se aos europeus por um pente ou um
caco de espelho. Las mujeres andan
desnudas y no saben negar a ninguno mas aun allas mismas acometen y importunam
los hombres hallandose con ellos en las redes; porque tienen por honra dormir
com los Xianos", escrevia o Padre Anchieta". (Gilberto Freyre. Casa Grande e Senzala. 51° ed. São Paulo:
Global Editora, 2006. p. 161)
Poderíamos
dizer que nossa sociedade nasceu na volúpia, e nela se atolou. O que isso
representa para uma nação? Fracasso, é a resposta mais óbvia. A licenciosidade
sexual é o primeiro aspecto de uma sociedade imersa na selvageria ou prestes a
imergir nela. Enquanto não adquirir um espírito moderado, o brasileiro
continuará a preferir o carnaval a conquistar seu tão falado lugar no mundo.
Voltando
ao autor que abriu esta reflexão e sua Teoria do Desafio-Resposta. Podemos
dizer que ela, ainda parece uma das respostas mais óbvias para o fracasso
nacional. O eugenista Auguste Sorel, fez uma observação muito pertinente a este
respeito. Dizia ele: "Os climas quentes parecem aumentar a intensidade da
vida sexual. Sob um sol ardente o homem se viriliza mais depressa e sente-se
mais disposto aos excessos sexuais." (A
Questão Sexual, 4º Ed. São Paulo: Companhia Editorial Nacional, 1929, p. 331) De fato, é facilmente perceptível a
diferença comportamental dos indivíduos habitantes das regiões mais frias para
os das regiões tórridas. E isso, enquanto não for plenamente refutado,
permanecerá como um indicio para a indolência e sensualidades dos tropicais, e
sua relação direta com o fracasso nacional e sua preferência pelo transitório
em detrimento do eterno.
Nenhum comentário:
Postar um comentário