Refugiados albaneses partindo para a Itália em 1991 |
No
século XVIII, Thomas Malthus (1766–1834),
um clérigo anglicano,
anunciava uma
teoria apocalíptica:
O poder de crescimento da população é indefinidamente maior do que o poder que tem a terra de produzir meios de subsistência para o homem. A população quando não controlada, cresce numa progressão geométrica, [enquanto] os meios de subsistência crescem apenas numa progressão aritmética.
(An essay on the principle population [Um ensaio sobre o princípio da população], 1798)
A
tese colocou em polvorosa
acadêmicos, empresários e políticos de
todo o Ocidente. E uma implacável luta pelo controle demográfico se iniciava, enquanto
Malthus era
aclamado como um grande
visionário, dotado de uma
análise
original da economia e da sociedade.
No
entanto, longe de apresentar algo original, Malthus só dava ares
acadêmicos a um temor infundado que acompanhara a humanidade desde
seus primeiros registros literários, de
que o crescimento populacional levaria, em algum momento, ao total esgotamento dos
recursos naturais.
Na
China antiga, 500 anos antes de Cristo, Han-Fei-Tsu, escrevera:
“Nos tempos antigos, o povo era pouco numeroso, mais rico e sem luta. O povo, no presente, pensa que cinco filhos não é muito, e assim, cada filho tem outros cinco e antes da morte do avô já existem vinte e cinco descendentes. O povo aumenta e a riqueza diminui; trabalha muito e recebe pouco. A vida de uma nação depende de o povo ter alimento suficiente e não do número de seus habitantes” [1]
Algum tempo depois, Platão iria afirmar em suas Leis que o número de habitantes da cidade não poderia ultrapassar a casa dos 5.040 chefes de família e residências (cf. V, 737e; 740d) E Tertuliano, mais de um milênio depois repetiria a mesma crença sob outros termos:
“Os flagelos da peste, da fome, as guerras, e os terremotos, diz ele, passaram a ser consideradas bênçãos pelas nações superpovoadas, pois servem para podar o pródigo crescimento da raça humana” [2]. Malthus, portanto, estava só compartilhando uma preocupação infundada que acometeu muitos homens de ideias ao longo da história.
“Os flagelos da peste, da fome, as guerras, e os terremotos, diz ele, passaram a ser consideradas bênçãos pelas nações superpovoadas, pois servem para podar o pródigo crescimento da raça humana” [2]. Malthus, portanto, estava só compartilhando uma preocupação infundada que acometeu muitos homens de ideias ao longo da história.
Mas
de onde nasce esta preocupação com o crescimento demográfico? Por
certo, do desconhecimento das dimensões e potencialidades de nosso
planeta. Porém, a medida
que os estudos demográficos avançavam,
esses
temores eram dispersados
por evidências logicas.
Em
1943, o economista francês Alfred Sauvy (1898-1990), apresentou
um dos estudos mais relevantes a este respeito. Em
Richesse et population,
Sauvy
demonstra que dos 50 % de áreas cultiváveis,
apenas 10% são realmente utilizadas. Isto nos leva a deduzir que, ainda
que se utilize uma área correspondente ao Estado do Pará, seria o suficiente para produzir alimentos para toda a população mundial.
Os
atuais
conhecimentos que dispomos das
dimensões terrenas e de
seus potenciais
enérgicos tornam risíveis qualquer alarmismo sobre os
perigos do crescimento demográfico.
Por
outro lado, enquanto governos ocidentais ainda se preocupam
obcecadamente com esta
questão (o crescimento demográfico),
um grande perigo os espreita:
o envelhecimento de suas populações e as baixas taxas de
natalidade. Perigo que já
é sintomático em alguns países europeus e americanos.
Ao
se defrontar com o inverso dos prognósticos alarmistas de
Malthus e seus discípulos, alguns governos já adotam posturas risíveis para contornar a crise demográfica
por eles causada. Por
certo, não estava nos planos de Malthus a
possibilidade de que um
dia, governos pagariam às
mulheres para ter filhos; e tão pouco estava nos planos de Malthus
os graves perigos em que nações se colocariam ao forjar a
diminuição demográfica de
sua população.
Um
destes perigos a que se
expõe uma nação ao
diminuir sua população, é a total vulnerabilidade
à incursão demográfica de outra. Enquanto, o Ocidente diminuiu
avassaladoramente sua população, o Oriente a aumenta em ritmos
vertiginosos, de modo, a se expandir para o lado ocidental, ao
ponto de em algumas décadas, substituir
totalmente os tipos étnicos que habitavam essas regiões. [4] Esta
realidade já é sentida por nações como Alemanha, França e
Itália, cujas taxas de natalidade de seus cidadãos nativos, já
beira os 0 %.
Referências:
1. Apud in ROSSETTI, José Paschoal. Introdução à Economia. 16º ed. São Paulo: Atlas, 1994, p. 459
2. Ibidem, p. 460
3. Um exemplo interessante: www.npr.org/sections/money/2011/11/03/141943008/when-governments-pay-peopleto-have-babies
4. theguardian.com/world/2017/nov/29/muslim-population-in-europe-could-more-than-double
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