sábado, 6 de janeiro de 2018

O erro de Malthus e o perigo em que o controle demográfico colocou o Ocidente




Refugiados albaneses partindo para a Itália em 1991



No século XVIII, Thomas Malthus (1766–1834), um clérigo anglicano, anunciava uma teoria apocalíptica: 
O poder de crescimento da população é indefinidamente maior do que o poder que tem a terra de produzir meios de subsistência para o homem. A população quando não controlada, cresce numa progressão geométrica, [enquanto] os meios de subsistência crescem apenas numa progressão aritmética. 
(An essay on the principle population [Um ensaio sobre o princípio da população], 1798

A tese colocou em polvorosa acadêmicos, empresários e políticos de todo o Ocidente. E uma implacável luta pelo controle demográfico se iniciava, enquanto Malthus era aclamado como um grande visionário, dotado de uma análise original da economia e da sociedade.
No entanto, longe de apresentar algo original, Malthus só dava ares acadêmicos a um temor infundado que acompanhara a humanidade desde seus primeiros registros literários, de que o crescimento populacional levaria, em algum momento, ao total esgotamento dos recursos naturais.
Na China antiga, 500 anos antes de Cristo, Han-Fei-Tsu, escrevera:
Nos tempos antigos, o povo era pouco numeroso, mais rico e sem luta. O povo, no presente, pensa que cinco filhos não é muito, e assim, cada filho tem outros cinco e antes da morte do avô já existem vinte e cinco descendentes. O povo aumenta e a riqueza diminui; trabalha muito e recebe pouco. A vida de uma nação depende de o povo ter alimento suficiente e não do número de seus habitantes” [1]
  
Algum tempo depois, Platão iria afirmar em suas Leis que o número de habitantes da cidade não poderia ultrapassar a casa dos 5.040 chefes de família e residências (cf. V, 737e; 740d) E Tertuliano, mais de um milênio depois repetiria a mesma crença sob outros termos: 
“Os flagelos da peste, da fome, as guerras, e os terremotos, diz ele, passaram a ser consideradas bênçãos pelas nações superpovoadas, pois servem para podar o pródigo crescimento da raça humana” [2]. Malthus, portanto, estava só compartilhando uma preocupação infundada que acometeu muitos homens de ideias ao longo da história.

Mas de onde nasce esta preocupação com o crescimento demográfico? Por certo, do desconhecimento das dimensões e potencialidades de nosso planeta. Porém, a medida que os estudos demográficos avançavam, esses temores eram dispersados por evidências logicas.

Em 1943, o economista francês Alfred Sauvy (1898-1990), apresentou um dos estudos mais relevantes a este respeito. Em Richesse et population, Sauvy demonstra que dos 50 % de áreas cultiváveis, apenas 10% são realmente utilizadas. Isto nos leva a deduzir que, ainda que se utilize uma área correspondente ao Estado do Pará, seria o suficiente para produzir alimentos para toda a população mundial. Os atuais conhecimentos que dispomos das dimensões terrenas e de seus potenciais enérgicos tornam risíveis qualquer alarmismo sobre os perigos do crescimento demográfico. 

Por outro lado, enquanto governos ocidentais ainda se preocupam obcecadamente com esta questão (o crescimento demográfico), um grande perigo os espreita: o envelhecimento de suas populações e as baixas taxas de natalidade. Perigo que já é sintomático em alguns países europeus e americanos.
Ao se defrontar com o inverso dos prognósticos alarmistas de Malthus e seus discípulos, alguns governos já adotam posturas risíveis para contornar a crise demográfica por eles causada.  Por certo, não estava nos planos de Malthus a possibilidade de que um dia, governos pagariam às mulheres para ter filhos; e tão pouco estava nos planos de Malthus os graves perigos em que nações se colocariam ao forjar a diminuição demográfica de sua população.


Um destes perigos a que se expõe uma nação ao diminuir sua população, é a total vulnerabilidade à incursão demográfica de outra. Enquanto, o Ocidente diminuiu avassaladoramente sua população, o Oriente a aumenta em ritmos vertiginosos, de modo, a se expandir para o lado ocidental, ao ponto de em algumas décadas, substituir totalmente os tipos étnicos que habitavam essas regiões. [4] Esta realidade já é sentida por nações como Alemanha, França e Itália, cujas taxas de natalidade de seus cidadãos nativos, já beira os 0 %.



Referências:

1. Apud in  ROSSETTI, José Paschoal. Introdução à Economia. 16º ed. São Paulo: Atlas, 1994, p. 459
2. Ibidem, p. 460 
4. theguardian.com/world/2017/nov/29/muslim-population-in-europe-could-more-than-double  

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