Há exatos 139 anos, Henrik Ibsen, um tanto quanto distante dos grandes centros democráticos mundiais, demonstrou através da dramaturgia uma verdade que tantos filósofos já tentaram expor através de raciocínios mais sofisticados e menos dramáticos: “O maior inimigo da verdade, e também da liberdade entre nós, é essa coisa terrível que recebe o nome de maioria” (Um Inimigo do Povo). E as razões disso, já deveriam estar suficientemente claras a todos. O homem excelente, sábio, criterioso e capaz, é sempre uma minoria. Enquanto os estultos, sempre foram a maioria. Portanto, colocar o poder nas mãos da maioria é colocar nas mãos dos idiotas!
Até mesmo o documento mais popular e sagrado no Ocidente não deixou de atestar esta verdade: "Stultorum numerus infinitus est" (O número dos estultos é infinito - Eclo 1, 15). Uma afirmação que Ibsen vai refazer a seu modo: “O que é a maioria? Quem é a maioria? Se pensarmos nesta cidade, no país ou no mundo inteiro, veremos com clareza que os imbecis formam nele uma maioria esmagadora... E mesmo que o diabo queira, o direito não pertence à imbecilidade, pertence à inteligência”. No Brasil, esta relação intima de Democracia e Inépcia era consagrado nas palavras de Nelson Rodrigues: “Outrora, os melhores pensavam pelos idiotas, hoje, os idiotas pensam pelos melhores. Criou-se uma situação realmente trágica: ou o sujeito se submete ao idiota ou o idiota o extermina”. Esta verdade o levará a controversa afirmação de que “toda unanimidade é burra”. A sabedoria, a inteligência, o critério, a perspicácia, o talento nunca foram bens democratizados! Sempre foram bens restritos a uma parcela muito pequena da humanidade. O homem moderno possui grande dificuldade em entender esta verdade, especialmente aquele movido pelo espírito revolucionário que nas raias da sombria Revolução Francesa passou a apregoar a urgência de uma igualdade entre os homens que só existiu no campo teórico. Nesta sanha revolucionário chegou-se à tragédia moderna da ineptocracia. Onde os melhores são relegados ao ostracismo enquanto os piores são exaltados e elevados aos grandes postos de poder.
Sendo a democracia, o governo da pior parte do povo, como se poderá esperar que em uma democracia produza grandes e sábios estadistas? É neste sentido que Mencken diz que “um político criterioso, numa democracia, é tão inconcebível quanto um assaltante honesto”. Mas Abyssus abyssum invocat[1] a democracia tende a se (ou nos) encaminhar para abismos bem mais sombrios e profundos.
Diante de tudo que
fora exposto, salta-se imediato a interrogação: para onde nos levará a Democracia Moderna? Para o mesmo lugar que
ela, em qualquer uma de suas formas, sempre nos levou: à guerra. Mas não uma
guerra nos moldes clássicos, com armas e bombas, mas uma guerra branca; uma
guerra plebiscitária, onde a mais insignificante afirmação será submetida ao juízo
da massa.
“O que é verdadeiro,
justo e belo não é determinado pelo voto popular. As massas por toda parte são
ignorantes, míopes, motivadas pela inveja, e fáceis de enganar. Os políticos
democráticos devem apelar a estas massas a fim de ser eleitos. Aquele que for o
melhor demagogo vencerá. Quase por necessidade, portanto, a democracia, guiará
para a perversão da verdade, justiça e beleza” (Hans-Hermann Hoppe)