sábado, 29 de fevereiro de 2020

A Famigerada Indolência e Volúpia Brasileira


Caipira picando fumo (1893), Almeida Junior, Museu de Artes de São Paulo





            Julga-se, com justa razão, o Brasil um país privilegiado geograficamente. Porém, esta vantagem geográfica contrasta clamorosamente com uma grave desvantagem cultural em relação as outras nações. Curioso notar que certas regiões totalmente desfavorecidas pela geografia, arrasadas por guerras e toda espécie de calamidades naturais e carência de recursos produziram, e produzem, um extraordinário capital cultural e humano, enquanto o Brasil com todos os recursos que dispõe, permanece uma nulidade. Eis um poderoso exemplo que depõe em favor de uma velha teoria antropológica quase esquecida: a Teoria do Desafio-Resposta de Arnold Toynbee. Segundo este historiador inglês, um povo desafiado por um ambiente geográfico adverso produz respostas criativas para superá-lo. Por outro lado, uma nação que cresce dentro de ambiente favorável, tende a relaxar e estagnar sua capacidade criativa. Eis parte de uma boa explicação para o gigante adormecido que é o Brasil. Naturalmente, essa tese fora taxada como simplista, mas, embora simplista, ela possui certa fundamentação. Um paraíso tropical, pouco afligido pelo clima e por guerras, cujo povo se encerrou na mediocridade, como é o Brasil, deverá ter infinitos fatores que determinam seu fracasso. A este respeito, nosso filosofo maior expôs em termos igualmente simples uma verdade: "As grandes realizações humanas, provieram das grandes dificuldade; e as mais altas civilizações foram realizadas onde havia que vencer maior número de dificuldades" (Filosofia e História da Cultura)
Mas este cenário privilegiado em que se formou o brasileiro começou a mudar, especificamente em nossos tempos. O caos, é evidente, se instaura em nossa nação como nunca dantes. Devastada economicamente; assolada pela criminalidade; a mercê de líderes corruptos, o paraíso tropical se converteu em um cenário escabroso. Por outro lado, já notamos os primeiros lampejos de uma exuberante epifania de criatividade que promete levar nossa nação a uma condição mais digna. Se estiver certo, não exulte, pois, o crescimento cultural de uma nação aumenta junto com suas adversidades e à medida que ela se envolve em circunstâncias dramáticas.
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            Os grandes estudiosos da formação brasileira, notaram em seus primórdios uma acentuada predisposição ao descaso e à preguiça. Herança indígena, dirão alguns como Roberto Campos. O Pe. José de Anchieta, que viu a fundação desta nação, observou com certa curiosidade a típica indisposição brasileira estampada na personalidade daqueles em que ele se comprometera a educar. Em 1586, o missionário jesuíta escrevia sobre o tipo de estudantes que encontrara em terras brasileiras: “Os estudantes neste país são poucos e sabem pouco; a própria natureza não ajuda porque é depressiva, indolente e melancólica; e todo o tempo é gasto em festas, canções e distrações”.
434 anos se passaram e a famigerada indolência brasileira unida a seu espírito folgazão permanece inalterável. Gilberto Freyre, também citando o Pe. Jesuíta, observa o mesmo espírito impregnado na alma brasileira. 
"O ambiente em que começou a vida brasileira –– escreveu o antropólogo pernambucano ––, foi de quase intoxicação sexual. O europeu saltava em terra escorregando em índia nua; os próprios padres da Companhia de Jesus precisavam descer com cuidado, senão atolavam o pé em carne (...) As mulheres eram as primeiras a se entregarem aos brancos, as mais ardentes indo esfregar-se nas pernas desses que supunham deuses. Davam-se aos europeus por um pente ou um caco de espelho. Las mujeres andan desnudas y no saben negar a ninguno mas aun allas mismas acometen y importunam los hombres hallandose con ellos en las redes; porque tienen por honra dormir com los Xianos", escrevia o Padre Anchieta". (Gilberto Freyre. Casa Grande e Senzala. 51° ed. São Paulo: Global Editora, 2006. p. 161)
Poderíamos dizer que nossa sociedade nasceu na volúpia, e nela se atolou. O que isso representa para uma nação? Fracasso, é a resposta mais óbvia. A licenciosidade sexual é o primeiro aspecto de uma sociedade imersa na selvageria ou prestes a imergir nela. Enquanto não adquirir um espírito moderado, o brasileiro continuará a preferir o carnaval a conquistar seu tão falado lugar no mundo.
Voltando ao autor que abriu esta reflexão e sua Teoria do Desafio-Resposta. Podemos dizer que ela, ainda parece uma das respostas mais óbvias para o fracasso nacional. O eugenista Auguste Sorel, fez uma observação muito pertinente a este respeito. Dizia ele: "Os climas quentes parecem aumentar a intensidade da vida sexual. Sob um sol ardente o homem se viriliza mais depressa e sente-se mais disposto aos excessos sexuais." (A Questão Sexual, 4º Ed. São Paulo: Companhia Editorial Nacional, 1929,  p. 331) De fato, é facilmente perceptível a diferença comportamental dos indivíduos habitantes das regiões mais frias para os das regiões tórridas. E isso, enquanto não for plenamente refutado, permanecerá como um indicio para a indolência e sensualidades dos tropicais, e sua relação direta com o fracasso nacional e sua preferência pelo transitório em detrimento do eterno.

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